Às vezes, no silencioso sufoco da conturbada e estranha contemporaneidade que nos tem vindo a oferecer ultimamente, dia após dia, insaciavelmente, um lamentável espetáculo de selvajaria, destruição, egoísmo e caos, torna-se imperioso enveredar por uma espécie de fuga para a frente, no momento de sair à rua e decidir qual a melhor máscara que nos poderá ajudar a disfarçar as mágoas que nos atormentam e pelas quais não conseguimos sentir qualquer desdém. Hoje foi isso e isto que me inspirou quando abri, de par em par, o meu cada vez mais antiquado closet...
Adoro quando o verão se insinua assim... num vai e vem algo inconstante e quase tardio, quando ele provoca e atiça num novo espreitar. Quando já parecia que a eternidade nos separaria, eis que ele me proporciona um novo usufruto. Oxalá não seja o último...
A azáfama dos dias é para ser vivida sem que os contratempos, as desilusões, as responsabilidades, os dramas profissionais, a angústia das decisões difíceis e o prazer dos projetos concretizados se sobreponham a um bem que deve ser sempre maior do que tudo isso... A preservação da tua auto estima interior e exterior e a certeza de que, mesmo sozinha, és capaz de enfrentar o mundo inteiro, mesmo naqueles dias em que ninguém parece querer apostar em ti!
Estás a poucos minutos de sair de casa, procuras inspiração para o teu look e não sabes muito bem para qual dos dois lados te hás-de virar... Nunca vos aconteceu tal indefinição? Como acabam por desempatar?
Não há melhor soporífero para a debandada geral dos nossos sonhos, principalmente quando parece que o chão estremece e foge, do que o trazer à tona a memória de dias felizes. Pois, eu sei, são aqueles dias que nunca mais voltam, quer por força das contingências do calendário, ou das próprias circunstâncias da nossa existência, mas é inegável contrariar aquele dito que, se o coração for uma fortaleza inexpugnável, podemos vivenciar tudo aquilo que de bom já experimentámos, sempre que quisermos.
Sei que ultimamente tenho-me refugiado numa onda nostálgica algo tempestuosa, mas talvez fosse bem pior se eu me refugiasse em outras coisas menos recomendáveis a até físicas, que pudessem, ou não, colocar terceiros no prato da balança das minhas emoções, para colocar novamente nos píncaros os meus índices de confiança e motivação, mas não sei se já estou de novo preparada para tal passo.