Sequelas do Reveillon
Para qualquer ser humano, o início de um novo ano vem sempre atrelado com desejos eufóricos, confessões de anseios e com exercícios de interiorização, mais ou menos velada, de novas metas e motivações. Pessoalmente, aquilo que ainda me move, após as doze badaladas, é o mesmo de sempre. Ultimamente, Reveillon após Reveillon, não tenho nada a acrescentar, algo a pôr ou a tirar ao já habitual desfile das minhas pequenas verdades secretas, mas que, sendo apenas uma ou duas, são essenciais para que a minha vida seja vivida realmente em plenitude.
Não foi uma escolha pessoal minha ter nascido e crescido com determinadas caraterísticas intrínsecas ao meu eu e que não são, admito, fáceis de serem confortadas e experienciadas em plenitude, tendo em conta todas as outras circunstâncias que definem o mundo em que vivo, conscientemente e por opção própria. Quantos de nós vivemos uma vida dita normal e temos, em simultâneo, um catálogo mais ou menos vasto, de desejos reprimidos? Que mal é que isso tem?
Tenho a firme impressão, absolutamente inquietante, que à medida que os anos passam, o relógio acelera o seu passo. Essa sensação de que o tempo acelera ao mesmo tempo que ficamos menos novos, deve-se, claramente, a algo indesejável, uma combinação letal entre a rotina a que não podemos fugir, fruto da necessidade quase primária que todos temos de nos abrigar numa profissão e nos direitos e deveres que a mesma impôe para termos os meios materiais necessários ao sustento básico e o comodismo provocado, quase sempre, pelo medo.
Penso que já confessei uma vez neste espaço que cada vez acredito menos em milagres. Reforço essa certeza, com a constatação de cada vez me sentir mais só e abandonada, nos meus desejos e na eventual ajuda externa que possa vir a ter para a realização dos mesmos. Como eu gostava que esta realidade fosse diferente... Mas isso não depende só de mim, claramente. E às vezes parece tão fácil.