Gosto destes dias de Inverno onde o tempo não obedece rigorosamente ao calendário e também há luz e cor. São dias que me ajudam a preencher a alma, dias em que a brisa menos suave e mais agreste não é mais forte do que a minha vontade de calcorrear as pedras da calçada da cidade onde moro e de rodopiar sobre mim própria ou sobre todos aqueles que me mostram sorrisos quase tão belos como o céu matinal pintado pelo solstício que se aproxima.
Nestes dias em que o frio não é muito frio, adoro testar a paciência do inverno e provar que nem ele consegue entorpecer as minhas mãos quando as coloco em pala e prescruto o horizonte até onde a minha vista alcança, em busca daqueles meus sonhos que são cada vez mais inadiáveis, mas que as circunstâncias do dia a dia me têm arranjado sempre uma desculpa para os deixar guardados de lado e mortiços.
Quem tem brio não tem frio, já dizia a minha avó, descrita por algumas conterrâneas e contemporâneas como a menina mais fina, delicada e vaidosa da rua onde viveu mais de meio século. E em dias iguais aos de hoje lembro-me sempre dela e das palavras sábias dessas senhoras que insistem em encontrar em mim parecenças com ela, porque, de manhã, ao remexer no meu closet, procuro sempre a melhor forma de a homenagear.
-Avó, espero hoje ter conseguido!