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My Guilty Pleasure

My Guilty Pleasure

A minha dança da chuva.

Ontem vi nas notícias que grande parte do nosso país ainda vive uma situação de seca e que há culturas perdidas por causa desta chuva persistente e tardia. E a verdade é que estas bruscas e constantes alterações do estado do tempo andam a deixar-me com os nervos em franja! É óbvio que há muito mais coisas importantes na vida, que a cotação do dólar face ao euro e a cotação do crude, as bombas que insistem em deflagrar no extremo oriente, a futura assembleia geral do Sporting, o envenenamento do ex-espião russo, a prisão do Lula, o funcionamento do VAR (também percebo de futebol) ou a visita do nosso presidente da república ao Egipto são assuntos bem mais relevantes do que estas constantes alterações do humor do São Pedro, mas não deixa de ser aborrecido acontecer como há dias em que uma gaja vê uns raios de sol matinais quentinhos e toca sair de casa de blusa e saia Meio Palmo Acima do Joelho de manhã e acaba por apanhar um valente banho quando vem almoçar ao meio-dia, antes de cruzar a perna ao balcão para comer uma bifana e beber uma imperial.

É preciso que continue a chover e que chova em todo o país. Aliás, apoio e subscrevo qualquer abaixo-assinado que se faça com esse propósito, já que hoje em dia é moda fazer-se abaixos assinados para tudo e mais alguma coisa. Mas para que continue a chover assim coloco desde já duas condições inegociáveis! Primeira: que não chova sábado porque tenho um compromisso very exciting e planeado há já algumas semanas a um local que só pode ser verdadeiramente usufruido com tempo quente e seco. Segunda: Que chova logo durante dois ou três dias seguidos, a partir da próxima semana, por exemplo, e em abundância, para uma gaja saber o que vestir nesses dias e as opções serem válidas ao longo de todo esse período. São Pedro, se me ouvires e me obedeceres, eu preparo uma pequenina surpresa para ti, pode ser?!

 

Gosto de saias.

Gosto de saias, confesso. Talvez até goste ainda mais de vestidos do que de saias, mas se me puser agora aqui a falar de vestidos, enfim... isso já seria abusar demasiado da vossa paciência e expôr-me ao ridículo de dissertar sobre uma dimensão estratosférica das coisas de que materialmente mais gosto. Falar de vestidos até se torna, às vezes, na proporção exata, algo obsessivo, confesso. Entusiasma-me de tal modo que pode, nos momentos de maior furor, fazer-me perder um pouco a razão e a noção do razoável. Mas voltando às saias, digo e repito: Gosto de saias. E gosto tanto que não percebo como há mulheres que não gostam... E não me venham com a desculpa da anca demasiado larga, ou do glúteo mal definido, da coxa bastante grossa ou da perna curta com que a mãe natureza presenteou. Nesta vida, só não há remédio para aquilo que nós sabemos...

Ao contrário do que acontece com a esmagadora maioria das mulheres, eu tenho uma dificuldade enorme de, no dia-a-dia, vestir um par de calças. E até gosto muito de jeans, por exemplo, e às vezes apetecia-me usá-los mais, principalmente os dois pares push-up que estão pendurados no meu closet, admito. E esse é um dos meus maiores pontos fracos, no que à minha apresentação diz respeito, também por causa da profissão que me obriga a algum rigor na escolha diária do meu look. Mas há outro aspeto da minha existência que justifica este gosto.

Gosto de saias, confesso. E nesse tal aspeto há dois factores que influenciam decisivamente esta constatação, óbvia para aqueles que melhor me conhecem, porque já sabem muito bem o que a casa gasta. Refiro-me, por um lado, à educação algo puritana que recebi, de uma mãe ainda mais feminina que eu, que me mostrou duas realidades distintas. De uma delas eu fugi a sete pés e procuro fazer sempre o oposto, até porque sei que se ela fosse tão livre no seu tempo como eu sou no meu, seria como eu. Refiro-me a um exacerbado conservadorismo e uma rigidez de regras e comportamentos familiares e sociais que defendiam, por exemplo, que uma senhora não pode, em circunstância alguma, distanciar-se daquilo que seriam, na gíria comum, as atitudes certas de uma mulher. A outra coisa que aprendi com a minha mãe, e essa eu procuro imitar ao máximo, quer na filosofia quer no modus operandi, foi a noção de feminilidade, geralmente levada por ela quase até ao extremo. E acaba por ser neste traço do caráter dela de que eu me apropriei com um certo deleite e com unhas e dentes, que entra este meu gosto por saias.

Hoje escolhi esta... Chegou a ser dela, da minha mãe. Foi restaurada depois de ter sido descoberta num baú da garagem juntamente com outras preciosidades e tecidos que ainda aguardam destino... E restaurei-a cuidadosamente e com amor, de certeza com o mesmo amor com que um rapaz se responsabiliza por aquele carro ou aquela motorizada antiga que foi do pai e que ele também quer um dia conduzir para o homenagear e porque ele era para si um modelo. As saias e os vestidos são os veículos que eu tenho para conduzir que a minha mãe me deixou... E sou feliz por poder dar vida a alguns!

 

This is just me...

Well, this is just me, preparing my body and my mind for a gray and really hard rainy working day...

This is just me, unhappy, absolutely lost on my thoughts and trying to find courage to put on my brown boots and go down the stairs in a day where I don't think there will be enough coffee or middle fingers to keep me alive...

 

 

Quem tem brio não tem frio.

Gosto destes dias de Inverno onde o tempo não obedece rigorosamente ao calendário e também há luz e cor. São dias que me ajudam a preencher a alma, dias em que a brisa menos suave e mais agreste não é mais forte do que a minha vontade de calcorrear as pedras da calçada da cidade onde moro e de rodopiar sobre mim própria ou sobre todos aqueles que me mostram sorrisos quase tão belos como o céu matinal pintado pelo solstício que se aproxima.

Nestes dias em que o frio não é muito frio, adoro testar a paciência do inverno e provar que nem ele consegue entorpecer as minhas mãos quando as coloco em pala e prescruto o horizonte até onde a minha vista alcança, em busca daqueles meus sonhos que são cada vez mais inadiáveis, mas que as circunstâncias do dia a dia me têm arranjado sempre uma desculpa para os deixar guardados de lado e mortiços.

Quem tem brio não tem frio, já dizia a minha avó, descrita por algumas conterrâneas e contemporâneas como a menina mais fina, delicada e vaidosa da rua onde viveu mais de meio século. E em dias iguais aos de hoje lembro-me sempre dela e das palavras sábias dessas senhoras que insistem em encontrar em mim parecenças com ela, porque, de manhã, ao remexer no meu closet, procuro sempre a melhor forma de a homenagear.

-Avó, espero hoje ter conseguido!

 

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